sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

A fumaça faz a boate ficar toda escura


"Look at the way she shakin'
Make you want to touch it, make you want to taste it
Have you lustin' for her, go crazy face it".
(Milow)

Engraçado como eu só sinto vontade de escrever aqui quando estou com saudades. E hoje a saudade me visitou mais uma vez, amigo. E me visitou forte dessa vez. Me deixou até na cama, num dia de sol alegre aqui em Zurich. Não sei o que houve. Talvez ter visto os olhos dele em outra face, tenha feito com que eu beijasse aquela boca, sabe? Mas, eu queria mesmo era os olhos. Queria aquele olhar pra mim. A boca era bonita também mas, nada melhor do que aquela janela, que me fitava o tempo todo.

Primeiro algumas trocas de olhares e mais um cerveja. Depois, um cigarro. "Não. Eu não fumo. Danke". Um sorriso. Música. [Aqui, tudo é música. Eu durmo com música, acordo com ela. Deito com ele, acordo só]. Ele me olhou desde que entrei no Palavrion. Me olhou dos pés à cabeça. Me olhou devagar, como quem examina uma peça quebrada, tentando arrumar um jeito de consertar. E ele lembrou de mim. Lembrou, eu sei. Eu vi. Não demorou muito.

Um esbarrão. "Desculpa". "Linda". O mesmo jeito. A mesma voz. Só eu mudei. Ele não. É engraçado, mas ali eu soube. Eu descobri. Que merda. [Scheiße, como dizem os Suiços]. Eu era dele. O tempo todo. Não adiantou toda a distância. Foi em vão. Eu tinha que voltar. Eu precisava descobrir a verdade. E descobri em meio aquele cheiro de cigarro com perfume Boss. Em meio a cerveja com a voz do Milow. Era ele.

Depois de alguns esbarrões e milhões de
Entschuldigung, eu criei coragem e atravessei, quase sem querer, a porta dos fumantes. Com o cigarro em uma mão e o coração em outra, deixei escapar uma lágrima, que por menor que tenha sido, me entregou completamente. Ele me olhou assustado. "Desde quando você fuma?". "Desde que precisei de uma desculpa pra vir aqui". Nós sorrimos. Sorriso grande, largo, com vontade de beijo, e olhar de sexo. Não sei se vocês entendem. Mas, desejo eu não sei explicar muito bem. Na verdade, quando o assunto é nós, eu nunca consigo explicar.

Muito papo rolou naquela mesinha que parecia um centro de buda. Lembranças. Desculpas. Explicações. Eu não queria entrar em nenhum desses temas, mas ele preferiu assim. Eu aceitei. Afinal, não são 3 dias. A gente precisava daquilo. Em meio a algumas lembraças - as melhores, posso grifar aqui -, o telefone dele tocou. Algumas palavras em alemão, que eu não consegui entender direito. Depois, um beijinho e um xau. Ele se volta pra mim, fecha o celular, e uma imagem de mulher aparece no descanso de tela. Puts. Pensei que era melhor sair de lá, rapido, antes que eu acabasse me magoando. Mas, não. Quem me conhece, sabe. Sou teimosa feito um burro. Fiquei lá, sentada, fazendo cara de forte.

De repente, do nada, sem o assunto estar pautado, pergunto: E aí, namorando? [silêncio e medo da resposta]. Não, respondeu ele. Pulos, gritos, sorrisos, meu coração ficou animado, neguinho. Eu senti, mas não deixei sair de dentro. Só senti, cá, comigo.

Diálogo importante:

__ Perguntou isso por causa da foto?
__ Foi sim. Acho que para estar aí, no seu mobile, é porque foi ou está sendo importante.
__ Nem passado, nem presente, minha ratinha. [ele sabe que odeio, quando ele me chama assim].
__ E o que é então?
__ Um fica. Você deve ter tido alguns. Não é?
Preciso te dizer uma coisa.
[olhar sério dessa vez].
Preciso te dizer quem foi importante pra mim, todo esse tempo.
__ Não. Não precisa fazer isso. Cada um tem sua vida, agora. Não precisamos.
__ Mas, eu quero.

Nesse momento, ele tirou a carteira do bolso, e colocou na minha mão a nossa imagem. Calça azul, blusa branca, cabelo curto, sorrindo, beijando.

__ Todo esse tempo ela esteve aí?
__ É. Todo esse tempo. Você esteve aqui.

Não sei o que deu em mim, mas a reação foi totalmente contrária. Eu levantei, coração disparado, mão suando, nem parecia que a temperatura estava -3°C. Agarrei a mão da minha tia, e saí arrastando ela pra fora da Disco. "Vamo embora", foram as únicas palavras que sairam da minha boca, antes dele fechá-la com um beijo.

Minha tia, coitada, não entendeu nada. Mas, nós sim. Sentimos tudo.

http://www.youtube.com/watch?v=DE9IchvpOPk&ob=av2e