sexta-feira, 29 de abril de 2011

O dia em que conheci Ariano

__ Fique à vontade, Ariano.
__ Pois tire esse microfone da minha frente. (risos)

Pense num cabra da peste esse Ariano "Vilão Assassino". O inimigo do computador. Não! Minto. Segundo ele, o computador que é seu inimigo (risos). Eita, hômi engraçado, menino! Ontem, felizmente, tive a honra de conhecer meu conterrâneo, lá de Taperoá. Foi emoção, viu? Bom, mas vamos começar por onde tudo começa, pelo início. Ou como diria meu amigo Jonas, "vamos fazer igual a Jack, o estripador, vamos por partes". Esse é outro, que não é lá de nós, mas se sairia muito bem na comédia em pé (sorriso).

INÍCIO: Atrasada como sempre, corri pra pegar o busão e ouvir Ariano Suassuna falar por alguns minutos. Eu tava muito ansiosa pra vê-lo. Cara, eu moro na cidade dele e nunca o vi. Tenho 20 anos e, até então, só ouvia falar em Ariano. O cabra macho de Taperoá. O típico nordestino com muito orgulho, "sim sinhô". Ariano é um figuraça. Carismático, divertido e bruto, rapaz. Lembra até o também típico nordestino Seu Lunga, lá das bandas do Ceará. O qual também tive o prazer de conhecer, em minha única viagem pro Juazeiro do Norte. Disso falo outra hora. Tô enrolando tudo, né? (risos). Voltando a falar da palestra de ontem, achei que não ia dar tempo chegar. Porém, como tudo no Brasil é desorganizado e ninguém chega na hora, colocaram a palestra para acontecer em um espaço desproporcional ao tamanho do cabra; e Ariano ainda não havia chegado. E tava lotado o Sindicato. Tááá bOm! O Sindicato não, mas o espaço tava. E eu fiquei com B, ali, escondidinha por trás de um telão, que não sei, até agora, que serventia tinha. Bem, mas prossigamos. Chegamos lá umas 19h, mais ou menos, ou pouco mais que isso, e não tinha começado ainda. A galera já parecia cansada e nós também. Ficamos, ora de pé, ora sentados no chão, e nada!! Ponteirinhos que rodam ou números que se alteram no visor do relógio, vai depender do modelo (risos). E nada!! Só umas apresentações de música e poesias, mas, sinceramente, eu não tava interessada e acho que a maioria do pessoal também não. Não desmerecendo os que se apresentaram, mas a galera queria mesmo era ver ele. O cabra!! Foram duas horas!! Duas eternas horas com os pés doendo e as costas quebradas de tanto senta e levanta. Só que algum dia tinha que chegar, né? E chegou!! Ana Patrícia. Minha amiga chegou naquela hora. Quase 21h. Ceguinha a coitada!! Quase não me enxergava dentro daquele aperto todinho. Ela teve sorte, porque chegou bem na hora que ele também chegou! Ariano entra.

MEIO: Eita, cara, quando ele entrou, deu um gelinho na barriga, sabe? Aquela sensação de que você engoliu uns mil pedaços de gelo e vedaram a sua boca com fita isolante. Foi essa!! Ele é muito massa! Ariano tava vestido com uma camisa de botão vermelha por dentro e uma por fora, da cor preta. "Tudo feito por Edite" (risos). Ele chegou de mansinho e sentou num cantinho reservado pra ele, naquele palco pequeno. Eita, negócio desorganizado, rapaz. Ele ficou muito escondido. E, ainda por cima, deixaram um "troço" na frente do rosto dele. Nãm. Pensei que eu não ia nem ver "a lenda". Mas, tiveram bom senso e tiraram o "troço" de lá. Que velhinho mais bonitinho. Aninha disse que tava com vontade de dar um xêro nele (risos). Doidinha?! Logo que ele sentou, o menino que estava na minha frente ergueu o braço e ficou acenando pra ele. Aí, de inchirida, fui na onda também, né? E não é que o hômi acenou, rapaz!! E B disse que ele acenou foi pra mim. "Eita! Que eu tô ficando importante!". Quando Ariano começou a falar, silêncio total. E ele já foi tirando onda. "Muito obrigado pela presença de você. Porque eu vou logo avisando que, se fosse eu, pra ficar esse tempo todinho esperando aqui, eu mesmo não vinha, não" (risos). Hômi, a gente já tinha até esquecido que ele tava tão atrasado. Ariano contou sobre sua posse na Academia Pernambucana de Letras e essa foi uma das histórias que mais me fez rir na palestra inteira. Ele disse que quando ia ser homenageado, recebeu uma ligação de um alfaiate exclusivo, pedindo suas medidas para poder fazer a roupa que Ariano usaria naquele dia. E o bicho ia fazendo a voz do alfaite, todo carioca com paulista, e eu me acabando de rir, lá atrás. Ariano disse que ouviu tudo que o alfaiate falou e, por fim, disse: "Tá, vá falando aí, mas a minha roupa, quem vai fazer é Edite" (risos). Foi a piada da noite. Ele ainda falou sobre seu repúdio por viagens. "Eu só conheço dois tipos de viagem: a tediosa e a fatal" (risos). Ele fez piada do começo ao fim, sem deixar de expressar o seu amor pelos livros e pela Paraíba. Ariano foi muito aplaudido. A cada história sua, o público ria muito. Caraca! E eu estava lá, olhando pra ele. Ouvindo ele. Pessoalmente. NOOOOOSSA!! Eu queria muito chegar perto dele. Ficava repetindo isso diversas vezes pra B. Queria muito, gente!! Muito!! Fiquei nesse desejo todo, até que ele encerrou a palestra.

FINAL: Antes dele sair do palco, um cara ainda foi ler umas coisa lá e tal. E ele ficou lá, parado, só ouvindo. E eu vendo a galera se aproximar, se aproximar. E eu queria ir. E eu tinha que ir. Tinha que dizer pra ele que eu sou taperoaense e admiro muito seu trabalho. Foi assim, sem saber como, que disse: "B, eu vou lá. Segura minha mochila". Partiu, amigo!! Quando vi, já estava lá, perto da faixa que divide a plebe da burguesia. Eu estava a um passo de Ariano Suassuna. Um dos maiores nomes da Literatura Brasileira. Era ele. Era eu. Ali. Mas, era também um monte de gente empurrando, pedindo autógrafo, abraçando. E eu, lá. Babando. Até, que o segurança deu um vacilo e eu ZAPE!! Consegui, cara! Consegui passar por baixo da faixa e me disfarçar de burguesia. CARACA!!! É Ariano p****! Enquanto ele autografava alguns livros, os seguraças faziam uma corrente ao redor dele, pra que ninguém tivesse acesso. Mas, como diz minha amiga Gemma, eu sou compactatória. Encostei o corpo perto das mãos dos seguranças, empurrei um pouquinho e passei a cabeça por baixo. Olhei nos olhos dele. Ele segurou a minha mão. Eu paralisei. Só consegui dizer que era de Taperoá e que estava tendo o prazer de conhecê-lo. Parece que o mundo parou naquela hora, pra nós dois. Ele olhou só pra mim e eu olhei só pra ele. Ele levou a minha mão direita até a boca, me dando um beijo suave. E lhe retribuí, claro! Beijei-lhe a pele das mãos, sensível, cansada e com marcas de tempo. Foi único. Ariano é único. Ele sorriu. Me olhou. E disse: "Tchau! Vá com DEUS". Caramba! Foi demais. Acho que já posso acabar aqui. Ah, não. Falta B. B tava me esperando e tentando fotografar alguma coisa, mas não deu. Ficou na mente, mesmo!! Ficou no coração. Ficou na pele das minhas mãos. E no cheiro que guardei.

terça-feira, 26 de abril de 2011

Anônimo!!

"Visão de raio X. O X dessa questão é ver além da máscara"
(Pouca Vogal)


Não deu certo, né? Eu percebi que era você. Anônimo! Merda de Anônimo. É tudo seu. Eu sei que é. Não adianta erros, nem palavrinhas mixurucas. Adianda sentimento. E isso você sabe fazer muito bem... Sabe fazer eu te sentir em qualquer coisa, em qualquer lugar, em todos os tons, em todas as cores. Mas você não acha que eu precisava saber que era você? Se você sente tudo aquilo e quer continuar ali, eu precisava saber. Era o mínimo de respeito que faltava. Era o mínimo da merda da consideração que faltava, depois de todos esses anos. Depois de todas as juras e segredos trocados. Depois de eu conseguir coragem pra dizer que eu te amo. Era o mínimo!! Por que você sempre prefere o caminho mais duro? Prefere a máscara. E você achou que ser Anônimo era a melhor saída. Você é um tolo! Igenuidade na minha idade? Não rola mais. A vida ensina que nela só vive quem sabe arriscar, quem se intromete... Que droga! Outra vez. Eu já te perdoei tantas vezes. Eu tinha esperança na sua metamorfose, sabe? De verdade!! E você só diz não. Não! Não pra nós dois. Tô cansada, sabe? Mais uma vez. Mais uma queda! E eu tô sempre ali. Arrumando toda a bagunça que você faz. Tô sempre estendendo a mão e te dando mais uma chance. Só que essa foi a última vez. Pode ter certeza que agora é do meu jeito. Sem vingacinhas baratas, nem trocadilhos medíocres. Sou eu de cara limpa, mostrando pra você como é que a gente ama alguém, sem esquecer de te deixar provar como é que se perde também. Não adianta mostrar a cara agora. Eu não preciso de atitudes suas, as palavras já me ferem o bastante pra querer sair daqui. Espero que alguém te ajude a se encontrar. A tirar essa máscara que já está impregnada ao teu rosto. Agora só sei que, por aqui, você não vive mais. Sem nomes, sem identidade, sem amor, agora!!

Sayonara Rodrigues

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Acontece por aí!!

Dezoito horas. Desligo o computador e agarro o celular. "Daqui a alguns minutos ele liga", eu penso. Trim... Trim... O celular toca. "Tá. Tô saindo. Quando chegar no penúltimo sinal, me liga, certo?". Recebo algumas orientações pra me cuidar durante o final de semana e saio, sem olhar pra trás, naquele corredor enorme, que percorro todo fim de tarde, às 18h. Enquanto faço meu trajeto diário, Luíz sorri, no alto dos seus 8 anos, quando vê seu pai entrar em casa, carregando um chaveiro com uma chave grande e preta. Carlos havia comprado uma moto, que estava em promoção, na concessionária próximo de sua casa. Era o sonho de Luíz. Ele grita, abraça o pai, chama a mãe para ver o mais sublime de seus sonhos. Aquela CG vermelha, com um adesivo preto escrito "Deus sempre está conosco", fazia os olhinhos do menino brilhar. Luíz vem de uma família humilde e batalhadora. Carlos trabalha de padeiro, numa padaria no centro da cidade. Graça lava roupas e faz faxina para ajudar nas despesas da casa. Luíz faz a terceira série e sonha em ser jogador de futebol, como a maioria dos moleques da sua idade. Cabelo preto e corpo pequeno, ele adora subir nos galhos do pé de castanhola, que fica no quintal de sua casa. Luíz gosta de estudar. O garoto é inteligente e espera ajudar a mãe quando crescer. Eu acabo o corredor e me despeço de mais um amigo que trabalha no setor de protocolos. Desejo uma boa noite e ele me sorri. Ouço os comentários diários dos seguranças e, por fim, entrego a chave do meu setor. "Hoje é sexta-feira", eu lembro. E vem aquele sorriso de vontade de aproveitar preguiça. Mesmo sendo tão tarde, Luíz insiste com o pai, que acabou de chegar do trabalho, para levá-lo no seu super megazóide vermelho a um passeio nas ruas da capital. Depois de muita insistência e algumas muitas birras do menino, Carlos decide levá-lo. O pai não mede esforços para agradar o filho, que lhe beija e abraça a todo instante. Carlos nem toma banho, muito menos se alimenta, apenas pede que Graça troque de roupa e os acompanhe na aventura. Carlos tirou sua habilitação há apenas um mês e não pratica desde então. Eu chego ao ponto de ônibus rotineiro. Tiro o ipod da bolsa e tento sufocar os ouvidos para não pensar. Canto alto, sem me importar com os olhares incomodados, afinal, eu tô no meio da rua e lá, o mundo é meu... Eu canto, grito, faço caretas. Olho pro relógio algumas várias vezes, porque não gosto de ficar ali, esperando. Na verdade, não gosto de esperar! Agarro o celular com mais força, acho que isso vai fazer ele ligar mais rápido. Alguns minutos passam pelo visor do celular e algumas vozes gritam ao meu ouvido... Dentre elas, a de Grabriel, que me faz refletir e me enfurecer ainda mais com a merda da desigualdade social. "Tá muito sinistro! Alô, prefeito, governador, presidente, ministro, traficante, Jesus Cristo, sei lá... Alguma autoridade tem que se manifestar"! E nada de ele ligar. Graça se apronta e, com um orgulho a mais no peito, grita por Luíz, que foi contar pro vizinho sobre a moto nova que havia acabado de chegar em casa. Quando ele volta, Graça o coloca devagar no banco, agarrado ao corpo de Carlos. Os três saem juntos, cantando. Eles fazem um giro pelo centro da cidade, prestigiando as luzes e a água que jorra no meio da lagoa. "É tudo tão lindo, não é, pai? Quando a gente olha aqui de dentro do peito.", diz Luíz, com os olhos vidrados nas luzes da lagoa. O pai encerra os pensamentos do menino com um abraço e um convite para continuar o passeio. "Que susto!". Por causa do trânsito horrível, meu celular só tocou novamente às 18:35. "Beleza, tô esperando.", eu digo e desligo. Alguns minutos depois, a moto para do meu lado. A mulher de cabelos escuros e vestido verde, parecido com o que usam as freiras, desce da moto com certa dificuldade. Em seguida, despede-se do marido e abraça forte Luíz. Ela o beija na testa e depois nos dois lados da face. Outro beijo no marido e um "tchau" baixinho no ouvido dele, seguido de um "cuidado, meu amor.". Agarrada ainda à mão direita de Luíz, Graça lhe dá um pequeno beijo no polegar e vai escorregando devagar a mão, que escapa da dele, como em câmera lenta. Os dois, enfim, saem em direção ao posto de gasolina. Graça enconsta-se no banco, onde eu estou sentada agora, e reza baixinho um Pai Nosso. Eu não ouço, mas entendo o que ela diz. Após a oração tão devota, ela olha os dois, presos num sinal, estende a mão e pede que DEUS os abençoe. Êpa! Sacanagem, ia perdendo o ônibus de novo... Antes de entrar no ônibus, olho para Graça e a levo comigo na lembrança.