sexta-feira, 13 de maio de 2011

Eu sei que você sabe. TE AMO!?!

Eu sempre considerei muito o Dia das Mães. Sempre era eu, lá de casa, quem acordava cedinho pra correr pra escola e começar a arrumar as cadeiras pras mães que chegariam dali a pouquinho, e se reuniriam com seus filhos, professores e com as outras mães. Eu enchia os balões, arrumava a mesa, ajudava a cobrir o bolo e, quando tudo estava pronto, escrevia na lousa a célebre frase de todos os anos: "Nós te amamos, MAMÃES".

Era tudo tão lindo. Tão mágico. Todas as turmas se reuniam. Nós passávamos quase um trimestre montando uma peça para homenageá-las e na hora desistíamos porque não conseguíamos apresentar. Quando o mês de maio ia se aproximando, eu começava a guardar os poucos centavos que ganhava do meu avô para tentar, no dia, comprar o presente mais bonito que encontrasse - meu pai raramente ajudava. Tudo porque ela merecia. Merecia e ainda merece. Merece o meu esforço, a minha dedicação e ainda as minhas economias.

Uma coisa que sempre acontecia em todos os Dias das Mães é que eu chorava muito quando as primeiras mães começavam a chegar na escola. Minha mãe tem um comércio em Taperoá, e ela sempre estava muito ocupada. Em todas as festinhas das mães ela se atrasava e eu chorava muito. Foi assim até o segundo ano do que, na época, era o científico. Até que eu a visse entrando pelo portão verde da escola e sorrindo, eu não parava de chorar. Eu a abraçava forte e passava a festa inteira sentada no colo dela. Sabe, eu adoro o cheiro da minha mãe. Ela exala um aroma de pele limpa tão gostoso, que agora me remete à saudade... Bom, mas, continuando, eu tenho na memória a vez em que fiquei mais triste em uma comemoração de Dia das Mães na escola, quando eu fazia a segunda série do fundamental. Acho que em todas as escolas tem aquelas brincadeiras ou sorteios para as mães concorrerem a presentes, né? Pois é. Foi numa dessas brincadeiras que aconteceu a minha maior decepção. Eu lembro que a professora perguntou que mãe queria participar da brincadeira naquele dia. Quando ouvi ela perguntar, agarrei o braço de Mainha e levantei. Fiquei segurando até que a professora a chamasse. Mainha estava linda com um conjunto preto de saia e blusa que a gente escolheu numa revista pra ela usar no dia das mães. Eu adorava aquela roupa. Mas, isso não vem ao caso agora. O fato é que ela foi lá participar da brincadeira. E a questão era a seguinte: minha mãe ficava de olhos vendados e a professora colocava três meninas, incluindo a mim, pra ela tocar e adivinhar quem era sua filha, no caso, eu (risos). E a brincadeira começou. Eu sentia Mainha tremer. Acho que ela sabia o quanto era importante pra mim que ela ganhasse. Depois de tocar todas, detalhadamente, ela chutou. Pra total destruição das esperanças vestidas na menina de cabelos curtos e sinal no queixo, minha mãe errou. Merda, bicho!! A professora colocou, justamente, uma menina de cabelos curtos e magrinha, igual a mim. Desastre total, velho!! Que merda!! Mainha esqueceu de um detalhe que só eu tinha. Um sinal enorme no queixo. Inconfundível. Era só sentir. Em vez de agir como uma boa menina e tentar compreender o que tinha acontecido, eu puxei Mainha pelo braço e saí chorando pra casa, com raiva, porque minha própria mãe não tinha me reconhecido... EEEEEita, decepção, cara!! Com certeza ela lembra disso!

Outra cena hilária que eu protagonizei em um Dia das Mães, dessa vez no sexto ano, foi por causa de um dos muitos atrasos de Mainha. Como em todos os segundos domingos de maio, eu acordei cedo e fui à luta, deixar tudo bonito pra ela e para as outras mães. Deixei a sala lindo. Quando tudo já estava pronto, as mães começaram a chegar. E Mainha já estava uma hora atrasada. Todas as mães já haviam chegado, menos a minha. E, enquanto isso, eu fazia igual ao Kiko: encostava o braço na parede, escondia o rosto e chorava. Chorava muito. Chorava tanto, que as outras mães sentiam pena de mim. Lembro que, quando levantei a cabeça, elas estavam todas na porta, me olhando. Até que uma professora, que já não lembro quem era, ligou pra Mainha e pediu pra ela correr pra escola. Hoje eu rio disso, sabe? Mas na hora eu sentia um desgosto muito grande.

Mainha nunca perdeu nenhuma comemoração do Dia das Mães na minha escola. Esse dia parecia ser mais importante pra mim do que pra ela. E eu arrisco dizer que era. Eu tinha tanto orgulho de mostrar a minha mãe. Minha Mainha. Só que os tempos passam, a gente vai crescendo e, no meu caso, como no de muitos outros adolescentes que moram no interior, temos que sair e procurar construir o nosso futuro. Foi assim que aconteceu no segundo semestre de 2008. Eu vim estudar em João Pessoa e deixei a minha mãe.

Desde 2008, não comemoro esse dia do lado dela. Só que esse ano a situação não foi como nos anos anteriores em que eu ligava e chorava a distância dela. Esse ano eu nem cheguei a ouvi-la. Não senti suas lágrimas, nem beijei-lhe a face. Pensei nela o dia inteiro e não disse pra ninguém. Parabenizei uma mãe que não era a minha. Senti o calor de uma família que não era a minha. Acordei do lado de uma mãe que não era a minha. Abracei irmãos que não eram os meus. Compartilhei uma felicidade de mãe que não era a da minha. E assim seguiu o segundo domingo de maio deste ano. Eu não sabia que, do outro lado, minha mãe chorava a distância da sua mãe e a dor da minha mensagem que dizia mais ou menos assim: "Mesmo a senhora não querendo falar comigo, eu lhe desejo um feliz Dia das Mães. Que a senhora aproveite ao lado dos que ama e que te amam, desculpando os que lhe fizeram tanto mal, a ponto de merecerem seu distanciamento”. Eu não sabia que ela iria ficar tão triste por causa dessa mensagem. E só depois que enviei foi que percebi que eu não disse que a amava. Mas, eu amo. AMO muito a minha Mainha.

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