sexta-feira, 8 de julho de 2011

finDes



Sempre sério, ele chega e senta no banco a espreita do próximo carro que virá. Larga a mochila de lado e a apoia com os pés. Sapato brilhando, camisa com botões abertos. Aqui em João Pessoa faz muito calor, e depois de um dia de trabalho a coisa que você mais quer é tirar toda a roupa e se jogar no chuveiro. Acho que é a vontade dele também. Normalmente traz uma cerveja na mão, e fica lá adorando ela até a hora chegar. Eu não consigo não olhar a boca, os lábios grossos, a barba mal feita de final de semana. Ele bebe a cerveja com tal dedicação que me faz até ter água na boca [eu não bebo]. Um gole, dois goles, três goles, respira. Vez ou outra olha de lado, mas nem me enxerga. Não me enxerga mesmo. Às vezes eu acho que ele arrisca com o olho direito, mas é só imaginação. Outro dia ele me perguntou a hora (risos). Eu quase não respondia. Faltou a voz. Séríssimo que faltou. Quando peguei o celular dentro da bolsa, vi que o imprestável estava descarregado. Eita, azar! Ontem descobri que ele tem uma namorada. São beijos e mais beijos pelo telefone, bem do meu lado. Mas poderia ser pior, né? Ele poderia ser noivo, ou até casado. Mas, não. É apenas uma namorada. E namoradas morrem. Simples assim. Facim, facim de resolver. Acho que até a moça da banquinha já entendeu a situação. O ritual acontece todas as noites de sexta-feira, do mesmo jeito, no mesmo lugar. Tem o começo, o meio e a merda do fim. Esperar a semana para vê-lo não é uma boa experiência. Dia desses pensei em ir lá onde ele trabalha perguntar o preço da passagem para Lisboa. Gente, o que é que eu vou fazer em Lisboa, lisa desse jeito?! Sem chance!! Descartei. Xa pra lá. Vou me contentar em vê-lo uma vez por semana, sentar do lado dele no mesmo banco, e sentir o cheiro de fim de semana chegando.

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